Uma jornada em diversos meios de transportes por paisagens incríveis em meio a algumas das mais altas (e sagradas) montanhas japonesas – vem conhecer como é fazer a travessia dos Alpes Japoneses pela Rota Alpina Teteyama Kurobe!
Quando me deparei com uma pequena nota no guia Lonely Planet, falando dessa rota que cruza a região norte dos Alpes Japoneses, na qual diversos meios de transporte te levam por picos nevados e paisagens líndissimas, partindo de uma altitude de 475 metros e chegando a 2.450 metros, conhecida como “the roof of Japan” (“o telhado do Japão”, em tradução livre), eu simplesmente coloquei na cabeça que TINHA que ir até lá.
A Rota Alpina Tateyama Kurobe cruza parte do Parque Nacional Chubu Sangaku, passando pelo Monte Tateyama, mais conhecido como Monte Tate, que, junto com o Monte Fuji e o Monte Hakusan, é uma das três montanhas sagradas do Japão.
“In the 17th-19th centuries, Tateyama became one of Japan’s three holy mountains along with Mt. Fuji and Mt. Hakusan. Many pilgrims visited the mountain. People seeing hot water coming from the ground at Jigokudani imagined that they were seeing into the underworld. The high point of Mt. Tateyama overlooking the valley of hell came to represent heaven. People who climbed Mt. Tateyama during their life hoped that their souls would go to heaven after their death.” https://www.alpen-route.com/en/info/history.html
Não encontrei muita informação a respeito da Alpen Route (como também é chamada) na internet – o pouco que consegui foi no site oficial da rota e em um ou outro blog em inglês – mas mesmo sem saber muito bem o que esperar decidi encarar o desafio e conferir essas paisagens.
Foi uma aventura incrível, com paisagens belíssimas, que se encaixou perfeitamente no nosso roteiro de 4 semanas pelo Japão pois foi um dia em que fujimos dos passeios turísticos tradicionais do Japão (= cidades grandes e templos) e conhecemos um Japão bem diferente daquilo que reside em nosso imaginário.
Vem conferir todos os posts sobre o JAPÃO:
- O melhor do Japão neste super roteiro de 4 semanas
- Onde ficar em Tóquio
- O melhor de Quioto – o que fazer em 4 ou 5 dias na antiga capital japonesa
- Rota Alpina Tateyama Kurobe – como é a travessia dos Alpes Japoneses
- De Magome à Tsumago pela Rota Nakasendo, os mais lindos vilarejos do Japão medieval
- Roteiro de 2 dias em Hiroshima, com bate-e-volta a Miyajima
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Neste post, você vai encontrar:
ToggleONDE FICA A TATEYAMA KUROBE ALPINE ROUTE
Essa rota liga a prefeitura de Nagano (a leste) com a de Toyama (a oeste), na região central-oeste da ilha de Honsu (a maior e principal das ilhas japonesas).
A rota tem aproximadamente 90 kilometros de extensão, com uma diferença em elevação de 1.975 metros.
É possível fazer a rota de leste a oeste (de Nagano a Toyama) ou de oeste a leste (de Toyama a Nagano) . O usual é fazer somente um sentido, mas é possível ir até metade da rota e voltar pelo mesmo caminho da ida.
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QUANDO FAZER A ROTA ALPINA TATEYAMA KUROBE
A Rota Alpina funciona da primavera ao final do outono, porém as datas específicas de abertura e fechamento variam ano a ano. Em 2024, abriu do dia 15 de abril ao dia 30 de novembro, confira no site oficial as datas de abertura de cada ano.
Cada estação do ano tem seu atrativo na Rota Alpina
Na primavera, a principal atração da rota é o corredor de neve que se forma na parte mais alta do passeio: a estrada que liga Murodo a Midagahara fica com paredões de neve que chegam a 20 metros de altura! A neve vai derretendo com o tempo, mas dizem que até o final de junho (dependendo do ano, claro) ainda há neve neste trecho da Rota Alpina. Fomos em meados de julho e, como era de se esperar, o corredor de neve já tinha derretido completamente.
O verão é a melhor época para aproveitar as trilhas: há diversas, para todos os gostos e níveis de aptidão física, inclusive a que sobre até o topo do Monte Tate (3.015msnm).
Já o outono é marcado pela beleza das folhagens, além de ainda ser possível fazer grande parte das trilhas.
Fizemos esse rolê no dia 16 de julho (áuge do verão japonês) – o passeio também foi um alívio ao calor infernal que fez durante TODA a nossa viagem de um mês pelo Japão. Se você vai ao Japão no verão, prepare-se para muito calor!
Achamos a rota bem cheia, praticamente todos eram turistas japoneses, o que nos disseram que pode ter sido em razão do dia 17 de julho ter sido (naquele ano) feriado nacional no Japão (Dia do Oceano – Umi no Hi, celebrado na terceira segunda feira de julho de cada ano).
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ONDE SE HOSPEDAR NA ROTA ALPINA TATEYAMA KUROBE
As principais hospedagens ao longo da rota são:
– Hotel Tateyama: o único que ainda tinha disponibilidade quando procuramos, mas estava fora do nosso orçamento. Fica na estação Murodo, a parte mais alta da Alpine Route, e a estadia inclue passeio pelo corredor de neve e atividade de observação de estrelas. Como fica exatamente em cima da estação, pode ser movimentado demais durante o dia.
– Midagahara Hotel: fica na estação de mesmo nome, a 1.930 metros de altitude, costuma ser um pouco mais econômico que o anterior e também é muito bem avaliado. Como não se trata de uma das estações principais da rota, tende a ser mais tranquilo que o Hotel Tateyama.
– Tateyama Kogen Hotel: localizado na estação Tengudaira, a 2.300 metros de altitude, parece uma excelente opção, numa localização mais tranquila que o Tateyama.
– Tengudaira Mountain Lodge: também na região de Tengudaira, uma das partes mais altas da rota, com acesso fácil a diversas trilhas.
Caso pretenda fazer a rota em um único dia como fizemos, o ideal é se hospedar em Toyama ou em Shinano-Omachi. É possível ficar em Nagano, mas isso adiciona cerca de 25 minutos ao trajeto.
Confira a disponibilidade e tarifas aqui:
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Fizemos a rota em um único dia, de Shinano-Omachi a Toyama. Pernoitamos em Shinano-Omachi, no Hotel Route-Inn Shinano Omachi Ekimae, hotel confortável, com café da manhã bem ok, mas cujo principal atrativo é ficar exatamente em frente à estação de trem e ao ponto de ônibus do início da Rota Alpina. Há alguns restaurantes próximos ao hotel, jantamos sushi no Sushi Matsubá (松葉鮨), simplesmente delicioso!
Em Toyama nos hospedamos no Toyama Chitetsu Hotel, que fica exatamente em cima da estação final da Rota Alpina e da estação da JR. Perto do hotel há diversos restaurantes, lojas e shoppings, jantamos no Viva La Vita, restaurante italiano, a comida estava deliciosa e o cozinheiro foi muito simpático, porém o único cardápio do lugar era um lousa escrita em japonês (que o google translate não dava conta de traduzir) e o garçom não falava nada de inglês (nada mesmo!), chegou a um ponto em que uma cliente do restaurante veio nos ajudar na tradução! Foi uma aventura fazer o pedido, mas todos comemos muito bem e saímos de lá com mais uma história para contar.
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Serviço de despacho de malas na Tateyama Kurobe Alpine Route
Li na internet que não é permitido levar malas na Rota Alpina, mas vi várias pessoas com malas e fiquei pensando que, se você for se hospedar em alguns dos hotéis da rota, é necessário levar as malas, não?
De qualquer forma, mesmo que fosse possível, optamos por seguir as regras e não levar malas – até porque, mesmos sendo experts em viajar apenas com mala de mão, carregar as malas por todo o trajeto iria transformar o passeio em um martírio, certo?
Entre Shinano-Omachi e Toyama há um serviço de despacho de malas (bagage forwarding service). Você as deixa das 7h40 as 10h30 no local – em Shinano-Omachi fica bem em frente à estação de trem (praticamente ao lado do hotel em que nos hospedamos) e em Toyama fica próximo às catracas da estação, e retira entre 15h00 e 18h00 na outra ponta do trajeto. Custa ¥2.500 por volume. O serviço não leva as malas até Nagano, então se você estiver hospedado em Nagano, terá que levá-las com você até Shinano-Omachi e lá despachá-las (ou retirá-las). No site oficial tem mais informações sobre esse serviço.
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COMO FAZER A ROTA ALPINA TATEYAMA KUROBE
A Rota Alpina Tateyama Kurobe pode ser feita de leste à oeste, ou no sentido contrário, sendo que não há um que seja melhor ou pior, vai depender do que se encaixa no seu roteiro. É possível também fazê-la até Murodo (o ponto mais alto) e retornar pelo mesmo caminho. Nós fizemos a Rota Alpina por conta própria, como explico aqui neste post, mas é possível fazê-la também com o auxílio de um tour organizado.
Nós fizemos em um único dia, iniciamos em Shinano-Omachi com o ônibus as 8hs da manhã e chegamos em Toyama as 5h30 da tarde.
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Esse quadro mostra exatamente os meios de transporte, o tempo de trajeto de cada um e os locais de “conexão”. Mas atenção pois, na prática, cada trajeto demora bem mais que isso, pois há os tempos de fila e de espera.
Em Shinano-Omachi pegamos o ônibus em frente a estação de trem, basta mostrar o QR Code gerado ao comprar o ticket online. No site oficial da Alpen Route há os horários do ônibus – preste atenção pois o horário de partida da Rota Alpina que constar no ticket comprado pela internet é a partir de Ogizawa.
Chegando em Ogizawa, há uma grande estação, com lojinha e restaurante. Lá trocamos, num totem, o ticket que havíamos comprado pela internet pelo ticket físico, que seria usado em todo o trajeto. Entramos na fila e pegamos o ônibus elétrico, que percorre uma distância de 6,1km, por dentro de um tunel, e te deixa na Kurobe Dam. Esse tunel foi construído para viabilizar a construção da represa e ainda hoje é utilizado para a operação dela.
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A Kurobe Dam, a 1.470 metros acima do nível do mar, possui quase 500 metros de comprimento de 186 de altura e é a represa mais alta do Japão. Com o boom econômico que o Japão vivenciou após o final da 2ª Guerra Mundial, a construção da represa foi uma forma de suprir a demanda por energia no país. 10 milhões de pessoas trabalharam em sua construção na década de 1950 e representou um grande desafio de engenharia para o Japão, tendo custado a vida de 171 pessoas.
Depois é necessário atravessar a represa a pé (cerca de 800 metros) e você estará em Kurobeko, onde se pega o funicular (cable car) para a próxima parada.
Esse funicular é totalmente dentro de um tunnel, tem cerca de 800 metros e um desnível de 373 metros. Ao final, chega-se em Korobedaira, a 1.828 metros sobre o nível do mar.
Nessa parada há um mirante, lojinha e restaurante, mas não gastamos muito tempo ali. Já entramos na fila para o bondinho (aerial tramway), que te leva, ao longo de 1,7km, a Daikanbo, a uma altitude de 2.316 metros (a primeira foto deste post!).
Dali se vai de troléibus (por um tunel) à Murodo, o ponto mais alto da rota, a 2.450 metros de altitude.
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Murodo é, literal e figuramente, o ponto alto da viagem, é onde se pode avistar (e subir!) o Monte Tate e onde há as trilhas mais bonitas da região. Há também geysers, lagos, enfim, uma diversidade de cenários lindos. Pegamos um dia bem nublado, a vista do Monte Tate ficou para próxima, mas mesmo assim estava lindo!
Nem preciso dizer, mas prepare-se para temperaturas BEM mais baixas que no início da rota. No dia em que fomos, a diferença foi de cerca de 20ºC (de 32ºC em Toyama a 12ºC em Murodo).
Há alguns hotéis na região (como o Hotel Tateyama que mencionei anteriormente), campings, lojinhas, restaurantes e cafés.
Uma das trilhas leva ao Hell Valley, uma área em que vapores com forte cheiro de enxofre emergem de um total de 136 buracos no solo. Há uma passarela pela região, mas estava fechada por risco de acidentes quando fomos.
De Murodo sai o ônibus que, na primavera, percorre o famoso corredor de neve. Quando fomos – no dia 16 de julho – a neve ao redor da estrada já tinha completamente derretido.
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Caso você queira parar em Tengudaira ou Midagahara, pegue o ônibus que faz essas paradas. Caso contrário, o ônibus irá direto a Bijodaira (a 977 metros de altitude) com uma parada para fotos (sem descer do ônibus) em Shomyo Falls, a cachoeira mais alta do Japão.
De Bijodaira se vai de funicular (cable car) à estação Tateyama, que fica a 475 metros de altitude.
Um trem local te leva de Tateyama a Toyama (Toyama Chiho Railroad), chegando na estação central da cidade, com fácil acesso à estação da JR caso você ainda tenha energia para seguir a outro local 😉 É possível, em Tateyama, pegar um trem expresso para Toyama (pago separadamente), informação que eu não tinha quando planejei a viagem.
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QUANTO CUSTA A ROTA ALPINA (E COMO COMPRAR)
A Rota Alpina não é coberta pelo JR Pass.
Os ingressos para a rota podem ser comprados diretamente no site da Alpen Route (link aqui, só tem em japonês ou inglês). É necessário criar um perfil e seguir as instruções do site (“make a new reservation”), escolhendo qual o sentido que você realizará a rota e em que data. Na próxima etapa você escolhe qual o trecho que quer fazer, o horário de partida de Ogizawa e a quantidade de pessoas. É necessário comprar o ônibus entre Ogizawa e Shinano-Omachi/Nagano separadamente, visto que o ticket normal da Rota tem seu início em Ogizawa.
É também possível comprar a rota somente até Tateyama, de onde você pode comprar o trem expresso para Toyama ou pegar trem para outros locais no Japão.
Em 2023, o custo por adulto no trecho Ogizawa-Toyama é ¥12.170 (aproximadamente R$410,00 ou US$ 82,33) ou ¥10.940 (aproximadamente R$370,00 ou US$ 74,00) no trecho Ogizawa-Tateyama. O ônibus entre Ogizawa e Nagano é ¥3.100 e entre Ogizawa e Shinano-Omachi ¥1.650 (preços pesquisados em setembro de 2023).
Após a compra você recebe um compravante com QR code que você troca por um ticket específico em Ogizawa (ou em Toyama/Tateyama).
Nessa página tem mais informações sobre os tickets.
Mas se você preferir, dá para fazer a Rota Alpina Tateyama Kurobe com tours como este aqui.
E aí, se animou para esse passeio no Japão que foje completamente do comum?
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ROTEIRO DETALHADO DE NOSSA VIAGEM DE 4 SEMANAS AO JAPÃO
Para saber mais sobre nossa viagem de 4 semanas ao Japão, confira o roteiro detalhado neste mapa abaixo, é só clicar e salvar na sua conta do Google. Quando você for por planejar sua próxima viagem ao Japão, já sabe por onde começar 😉
No mapa você pode ver detalhes de tudo o que fizemos, onde ficamos e os melhores lugares que fomos. Existem diferentes camadas, com cores diferentes, uma para cada área que visitamos.
Nesse post explico como eu uso o Google MyMaps para planejar minhas viagens, é um recurso muito bom, vale a pena conhecer!
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Aqui nossos posts sobre outros destinos na Ásia:
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