Tudo que você precisa saber para viajar de motorhome pelos EUA

Tenho uma confissão a fazer: fiquei por muito tempo evitando viajar de motorhome, “vai ser só perrengue”, “isso é coisa de bicho-grilo”, “não quero ter trabalho nas férias”. Hahaha, como eu estava enganada!

Rodamos mais de 2 mil quilometros em duas semanas pelo Alasca de motorhome, a primeira viagem desse tipo que fizemos, e foi só sucesso! Nem tínhamos terminado a viagem e já estávamos planejando o roteiro da próxima.

Aqui trago minhas impressões sobre viajar de motorhome nos Estados Unidos, e um compilado de dicas para te ajudar a vencer qualquer barreira que esteja te impedindo de aproveitar uma viagem deliciosa e memorável.

Claro que tivemos alguns perrenguinhos, e que viajar de motorhome tem algumas desvantagens (afinal, não dá para ser perfeito em tudo), mas no geral foi uma experiência bastante positiva.

Vem ver tudo que fizemos, o que recomendo e o que não recomendo, numa viagem de motorhome pelos Estados Unidos.



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Qual motorhome alugamos nos EUA

Para essa viagem, alugamos o motorhome da Cruise America com o auxílio de uma agência brasileira – Motorhome Trips. O atendimento foi nota dez e o preço foi menor que que conseguiríamos se houvéssemos alugado diretamente pelo site da Cruise America.

Somos uma família de 4 pessoas: dois adultos e duas meninas, na época da viagem com 11 e 13 anos. Escolhemos um RV (como é chamado nos EUA) para 5 pessoas, modelo C25. Isso significa que ele tem 25 feet, ou 7,62metros, de comprimento.

Por fora, parece um caminhão pequeno; na prática, é uma caminhonete Ford modelo F 3.500, a qual, no lugar da carroceria, foi acoplado o motorhome. Pelo que percebi, o interior de todos os veículos da Cruise America é idêntico: a disposição interna, o tipo de acabamento, a tecnologia empregada, enfim, é tudo padronizado.

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Como é o motorhome por dentro

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As fotos acima mostram o interior do motorhome CruiseAmerica C25 na configuração dia e noite: apesar de tecnicamente caber 5 pessoas, acho que ele é perfeito para 4 pessoas.

A melhor cama é a do fundo. Ela é um pouco menor que a cama que fica em cima do motorista, mas tem um tamanho bom para dois adultos, o colchão é mais confortável e o acesso à cama é mais fácil. A cama que fica em cima da cabine tem o colchão bem duro, além de ser impossível qualquer ida ao banheiro no meio da noite sem acordar o parceiro – para nós, isso não foi problema, já que temos na família um adulto e uma criança na família que nunca acordam durante a noite.

A mesa de jantar e respectivos bancos se transformam numa cama de solteiro para o quinto viajante. Nossa ideia inicial seria uma das crianças dormir na cama de cima, e a outra nessa cama de solteiro. Mas logo no primeiro dia desistimos dessa ideia.

Como você pode ver, não há muito espaço dentro do motorhome. Há vários armários (que não aparecem na ilustração) em cima da cama de casal e da mesa de jantar, nos quais guardamos as roupas, mantimentos, artigos de limpeza e demais tralhas aleatórias. Mesmo assim, sempre havia algo pelos bancos, ou em cima das camas. A noite, tudo que estava em cima das camas ia para a mesa, ao que se somavam as roupas e casacos em uso e mais um monte de coisa que sabe-se-lá de onde aparecia. E durante o dia, com a mesa em uso, tudo ia para cima da cama do fundo.

Enfim, a mesa de jantar se mostrou importantíssima como “porta treco” durante a noite; a mesma função que as camas exerciam durante o dia.

Somando a isso o fato ser bem complicado montar a cama, e ela ser um tanto quanto curta, sua utilização como espaço para dormir foi sumariamente descartada sem nem ter sido tentada.

Ao lado da porta do motorhome há outra cadeira, que teoricamente pode ser ocupada por uma pessoa enquanto o motorhome está em movimento. Mas essa também só foi usada como depósito de tralhas. Além não ser muito confortável (é bem estranho andar de carro de lado), essa cadeira não me pareceu um lugar muito seguro.

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Onde pernoitamos – acampamentos e camping selvagem

Como bons marinheiros de primeira viagem, priorizamos dormir em acampamentos na nossa viagem pelo Alasca, os chamados RV Campings, ou RV Parks.

A estrutura varia bastante entre cada acampamento: pegamos desde acampamento raiz, que era basicamente um estacionamento com um banheiro de fossa (sem condições de usar), até uns super gourmetizados, com banheiro excelente, lavanderia, louge, restaurante, lojinha e playground, além de todas as conexões para o motorhome, o chamado “full hook-up”: água, eletricidade e esgoto. Os preços, logicamente, também variam muito: de US$35 a US$90 por noite, na alta temporada de verão do Alasca.

Depois de duas semanas viajando de motorhome no Alasca, já tinhamos confiança para fazer um wild-camping – camping selvagem, ou seja, simplesmente parar o RV num local em que é permitido estacionar e pernoitar por lá, a custo zero. Acabamos não o fazendo, pois mesmo sem reservar com antecedência, conseguimos encontrar campings em todos os locais onde queríamos passar a noite.

Para os campings dos Parques Nacionais, como no nosso caso o Denali, é essencial reservar com atencedência pelo site oficial do National Park Service. O que acampamos no Denali não tinha nenhum hook-up, porém tinha banheiros excelentes, lavanderia e lojinha, além de ponto de água e de descarte dos resíduos (esgoto – dump station).

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Funcionamento do motorhome: água, eletricidade, esgoto

Essa era uma parte da viagem de motorhome que me deixava ansiosa: e se acabar a água? e se ficarmos sem gás? e se o esgoto entupir? e como que liga as coisas? Eu perguntava para as poucas pessoas que eu conhecia que já tinham viajado de motorhome e a resposta era sempre a mesma “é tranquilo”. Mas, bicho, e se acabar a água?

Depois de duas semanas rodando de motorhome pelos lugares mais desabitados dos EUA, só te digo uma coisa: “é tranquilo”. Acredite em mim.

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Água no motorhome

Há duas possibilidades para água no motorhome: a água armazenada no próprio veículo (capacidade 151 litros) e, caso você esteja num camping que tenha essa amenidade, a conexão com a rede de água local, em que você, como em qualquer imóvel, tem acesso ilimitado a esse recurso natural finito.

Na maior parte dos acampamentos em que pernoitamos não havia acesso à rede de água, mas havia como reabastecer o reservatório do motorhome. Nos que havia acesso, era só plugar a mangueira que vem com o RV na torneira, igual fazemos com a mangueira para regar o jardim. Simples assim.

Por três dias seguidos ficamos sem fonte para reabastecimento de água e deu tudo certo (foram as duas noites que pernoitamos no Parque Nacional Denali e a noite seguinte). Nesses dias, cozinhamos, lavamos louça, usamos o banheiro, só não tomamos banho porque no acampamento ao menos tinha um chuveiro bom. A água não acabou e o motorhome continuou habitável.

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Banheiro no motorhome

Priorizamos sempre utilizar os banheiros dos acampamentos, principamente para as necessidades mais substanciosas.

Mas mesmo assim usamos muito o banheiro e, apesar do espaço compacto, não houve problemas. De vez em quando passavamos um desinfetante no vaso, e um paninho umedecido de limpeza nas outras superfícies, mas sem stress. O motorhome continuou limpinho e cheirosinho mesmo depois de duas semanas de intenso uso.

Para banho, a ordem era usar o banheiro dos acampamentos, seja pelo espaço, seja para simplificar o processo de completa-o-reservatório- de-água-liga-o-aquecedor-despeja-o-esgoto. Mas, novamente, tomamos diversos banhos lá, lavamos cabelo, todo mundo limpinho e feliz.

Notei que as toalhas de banho demoram muito para secar; não sei se é algo relacionado ao clima do Alasca na época em que visitamos, ou se é porque é realmente difícil secar tanta toalha num ambiente tão pequeno.

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Esgoto no motorhome

No motorhome, há dois reservatórios para a água usada, o black-water e o gray-water. O primeiro é para os dejetos do vaso sanitário; o segundo para o restante (chuveiro e pia do banheiro e da cozinha). Periodicamente, é necessário parar numa “dump station” para descarregar essa mistura sinistra.

Em grande parte dos acampamentos em que ficamos, havia uma dump-station comunitária, em que os RVs paravam ao ir embora e faziam o descarrego. Nos poucos em que tínhamos a nossa dump station privada, deixamos o tempo todo os tubos conectados. Em alguns acampamentos não havia nada, nem exclusiva, nem comunitária. Chegamos a ficar três dias sem descarregar a essência do pântano e correu tudo bem.

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Eletricidade no motorhome

Só há eletricidade no motorhome se você o conectar à rede elétrica (tem um cabo específico para isso). Essa foi a principal razão para priorizarmos pernoitar em acampamentos. Como trabalhamos enquanto viajamos, precisamos das tomadas para os computadores, além da máquina fotográfica.

Os celulares podem ser carregados pelo USB do painel – mas atenção pois o motorhome que alugamos era bem velhão, e sequer tinha essas entradas USB, tivemos que comprar um adaptador. As duas entradas que o adaptador nos forneceu foram suficientes para carregar os 5 celulares da galera ao longo da viagem de duas semanas pelo Alasca.

Existe um equipamento chamado inverter, que se acopla ao acendedor de cigarros do carro e gera a corrente elétrica para notebooks e tals, mas não o compramos. Pelo que vi na Amazon, custa mais barato que uma noite de acampamento, mas quando percebemos que esse inverter nos teria sido bastante útil, já era tarde demais. Numa próxima viagem, certamente o levarei.

Não esqueça de desconectar tudo do motorhome antes de sair dirigindo… pode parecer brincadeira, mas teve uma vez que saímos lindos e plenos dirigindo o RV com a conexão à rede elétrica ligada. Ainda bem que não causamos nenhum acidente nem destruímos nada …

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Roupa de cama e banho

O motorhome que alugamos não vinha com roupa de cama e de banho, que deveriam ser alugadas a parte ao lindo preço de US$ 75 por pessoa. Achei bem absurdo, seriam US$ 300 para nós quatro!

Levei duas malas vazias, e passamos na Target: lençóis, toalhas, cobertores, edredon, travesseiros, tapete de banheiro, paninhos de copa, jogo americano, tudo isso por menos, muito menos, que o aluguel do “personal kit”. A própria agente de viagens brasileira que nos alugou o RV nos havia alertado que esse kit era bem mixuruca e nos recomendado comprar tudo por lá, nem que fosse só para usar durante a viagem.

No fim da viagem, consegui enfiar tudo nas malas (mais uma alegria de viajar light, sempre tem espaço na mala!) e demos uma renovada nosso enxoval diário!

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Segurança no motorhome

Ao planejar a viagem, e o quanto você vá rodar, tenha em mente que o motorhome não anda muito rápido, e que você provavelmente, irá andar ainda mais devagar que a potência máxima da máquina permite.

O motorhome é bem barulhento. Além do barulho do motor em si (que já é muito mais alto que o de um carro de passeio), tem barulho dos pratos batendo, das coisas chacoalhando lá atrás, enfim, prepar-se.

Todos os passageiros devem estar sentados e com cinto afivelado enquanto o motorhome estiver em movimento. É meio óbvio, mas é sempre bom lembrar, pois principalmente quem está na parte de trás, toda hora quer levantar para fazer algo. Não pode ficar andando enquanto o RV estiver andando, sacou?

Não dá para deixar nada solto enquanto o carro está em movimento. O que estiver em cima da mesa, ou da pia, na primeira curva sai voando.

Atenção aos retrovisores! Logo nos primeiros dias, tivemos o primeiro, e único, incidente da viagem: adeus ao retrovisor do lado do passageiro. Entramos em contato com a locadora, como havíamos contratado o seguro completo (sem franquia – recomendo!), não haveria problema algum. Como se trata de um espelho específico, que não se encontra à venda em lojas, nos orientaram a fazer uma gambiarra e seguir viagem. Mais uma para o currículo: gambiarra na gringa. Depois deu tudo certo, não tivemosmais nenhuma ocorrência e, ao devolver o motorhome, nos reembolsaram o valor que gastamos com a gambi.

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Mais algumas dicas práticas para viajar de motorhome nos EUA

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  • Leve um chinelo para usar nos acampamentos (banheiro) e outro (ou uma meia anti-derrapante) para usar dentro do motorhome. Achei o chão do RV bem frio, e não tem como usar o mesmo chinelo que vc usa nos acampamentos (que acaba ficando imundo) dentro do RV.

  • Leve o adaptador USB para o painel do carro e, se achar que será necessário, o inverter.

  • Não deixe de compar os itens de limpeza (e usá-los): paninhos umedecidos para pia e banheiro e desinfetante, além de esponja e detergente.

  • O motorhome que alugamos tinha uma vassoura, mas se o seu não tiver, precisa comprar. Dia sim, outro também, é bom dar uma varrida na casa-carro, demora menos de 20 segundos.

  • Na unidade da Cruise America que fomos (Anchorage, AK) tinha um “donation desk”: uma mesa em que as pessoas que estavam devolvendo o motorhome doavam os itens que não tinham sido utilizados, para que quem estivesse retirando o motorhome pude aproveitá-los. Pegamos vários itens – detergente, guardanapo, papel toalha, sabonete líquido, vinagre, sal, pimenta; e ao retonarmos doamos muitas coisas: travesseiros, produtos de limpeza, papel higiênico, até devolvi o sal e a pimenta. Achei uma ótima ideia.

  • O tanque de combustível do motorhome tinha capacidade para 50 galões, pagamos entre US$ 3,60 e US$ 4,20 por galão, e pelas nossas contas o consumo aproximado foi de 4,5km por litro.

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motorhome estacionado, entre árvores, em camping nos Estados Unidos

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